terça-feira, 22 de junho de 2010

A ULTIMA APRESENTAÇÃO DE DRACULA


19.06
Uma hora antes do espetáculo já estava tudo ok na técnica. Quarenta minutos antes, tudo certo. A peça atrasa treze  minutos não por incompetência, mas por relaxamento, todos muito tranquilos num clima de lugar qualquer, lugar comum.  Uma calma estranha paira o ar do CUCA. Somente alguns sabem, mas esta calmaria é aquela melhora antes da morte. Tirando a cúpula (Eu, Marcos, Clara, Isa e Anita) ninguém sabe que o espetáculo se encerra este sábado. Deixo para comentar ao final da apresentação para não interferir na mesma.

A apresentação começa. No público, menos de dez pessoas.

É um espetáculo morno, cheio de erros, textos esquecidos, atores canastrões. Cenas que foram cortadas  são colocadas de volta pelos atores, sem permissão. Cena mantidas são esquecidas. Uma indisciplina inédita: um espetáculo com cortes para diminuir o tempo continua com duas horas graças a cacos, demoras cênicas, cenas que voltam após o corte...
 Desagradável, de fato.
 Não há uma criação conjunta, e sim uma necessidade de brilho individual.
 Não há mais para onde ir, não do jeito que está.

O espetáculo termina.

 Desmontando as coisas, cumprimento sorridente a amiga de Pamela, uma bela estudante de teatro chamada Carol . Ela corresponde o sorriso. Não tenho coragem de perguntar se ela gostou do espetáculo. Quem gostaria? Eu já teria ido embora.Vergonha. Após tantos anos, vergonha do que é apresentado. Deus, eu não preciso disso!

Ao final, o grupo se divide em pequenos grupos. Marcos informa o fim das atividades aos semi grupos. Luara e Pamela somem, não recebem a noticia - como sempre, estão à parte, em um mundo individual e salpicado de glitter. Grasi mantém um sorriso sereno no rosto e despede-se juntamente com Thays. Nem noto quando a Ingrid e a Antheia partem. Me sinto mal por não ter proporcionado uma experiência de grupo a todos. Espero que alguns me proporcionem a oportunidade de corrigir os erros que cometi nesta jornada.

Durante o cigarro e a cerveja final, eu, André e Marcos conversamos sobre o destino.
Seria melhor se não tivessemos saído de São Miguel? Acredito que sim, mas agora é tarde.
Algumas pessoas deveriam ser afastadas? Sim, sem dúvida. Maldita segunda oportunidade cristã!
O que fazer agora? Seguir a estrada. Te vejo na curva.
André ri e já  descobre o chavão da noite
: "Tá parecendo aquele velório de morimbundo, onde as pessoas dizem 'foi melhor assim' ".

Rimos.
De fato.

Foi melhor assim.

André vai embora cedo. Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes, mas o roteiro da vida não sou eu que escrevo, fazer o quê? Gostaria que ele tivesse ficado mais...

Fim de noite.
 Eu, Marcos, Anita, Clara, ,Juliana,  Pamela e Luara.
Despedidas comuns.
 Simples formalidades.
Juliana junta-se a nós numa farra final.
Luara e Pamella somem com seus amigos em direção ao último metrô.
 Na Marginal, lembro que não avisamos sobre o fim do espetáculo. Clara lembra que a Pamella está com os DVDs do grupo - os quais ela cansou de pedir para que devolvesse.
"Da próxima vez que a gente se ver, pegamos de volta."

A próxima vez pareceu frase de fim de filme, e o carro seguiu pela marginal  Tietê até São Miguel.

E, como sempre, fim de saga no bar do Chicão/Didi.

Lá, Bárbara, Tarcisio, Marrom e Grasi. Duas da manhã. Ficamos até umas quatro horas bebendo, conversando, rindo muito e lamentando pouco.

Depois, em minha casa, olhamos fotos do processo artistico e de outros trabalhos do AD.
Devo registrar que os outros tiveram finais mais felizes que este, artistica e pessoalmente.

Pensando nisto, poderamos nas pessoas que muito nos agradaram e que queremos por perto. Coincidentemente, a maioria destas pessoas - as que mais cresceram em suas artes e em nossos corações - são de São Miguel ou redondezas, tirando aquela pessoa genial que saiu do Tucuruvi para ganhar uma cadeira cativa por aqui. 

Sim, coisas boas aconteceram, e as coisas boas permanecerão.

Agora Drácula prepara-se para dormir.

Digam boa noite, e aguardem um breve despertar.


EM 19 DE JUNHO DE 2010 ENCERRA-SE AS ATIVIDADES LIGADAS AO PROCESSO ARTISTICO "DRÁCULA" REALIZADO PELO ALUCINÓGENO DRAMATICO TEATRO E PESQUISA.  O PROCESSO INICIOU-SE EM JANEIRO DE 2010 E RESULTOU NO ESPETÁCULO DRÁCULA QUE TEVE TRÊS APRESENTAÇÕES: UMA NA OFICINA CULTURAL LUIZ GONZAGA E DUAS NO CUCA SP. DEVIDO A PROBLEMAS TANTO ESPACIAIS QUANTO ARTISTICOS E PESSOAIS, O GRUPO DECLARA O PROCESSO ENCERRADO A PARTIR DA DATA CITADA ACIMA.  

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