sábado, 25 de setembro de 2010
DRÁCULA 2010 - AS ULTIMAS CONSIDERAÇÕES
"O que os outros pensarão não tem a menor importância. Não precisamos provar nada e nem pedi que alguém acredite em nós."
(Van Helsing, em Drácula)
Este é o fim de DRACULA, ao menos dentro da proposta surgida no inicio deste ano. Nos últimos meses o espetáculo agonizou. Após a estréia, cometemos erros atrás de erros, o que muito comprometeu a vida da peça. O bom disso é que não erraremos novamente – não os mesmos erros.
O erro fatal foi ir para o centro – especificando: ir para o Centro Universitário de Cultura e Arte, o CUCA – e abandonar a idéia inicial, que era realizar as apresentações em São Miguel. Se tivéssemos permanecido em São Miguel, o espetáculo teria sido apresentado dentro do seu cronograma inicial e sua continuação seria possível, ainda com o elenco original do processo artístico.
O outro erro foi insistir em ficar no CUCA mesmo quando o espaço não ofereceu as condições ideais. As pessoas do elenco se mantiveram fiéis enquanto foi possível, acreditando que tudo daria certo mais cedo ou mais tarde. Não deu certo. As pessoas desanimaram. E nós também. Aliás, se não tivéssemos desistido de apresentar lá, eles iriam até o final, por pior que fosse as condições. Era um elenco muito bom, talentoso, pessoas que dificilmente se encontrarão novamente numa jornada como esta. Ali surgiram amizades e inimizades magníficas, ciúmes e parcerias que ainda vão render boas gargalhadas no futuro, na mesa de bar ou na sala de visitas de alguém. Lembrando dos acontecimentos, sinto saudades de todos. Boas lembranças, enfim. Até as ruins.
Voltando ao erro CUCA. Teve coisas muito incomodas, como grupos utilizando o espaço em horários que seriam nossos, cobranças de nossa presença e indiretas infantis para que as garotas limpassem o espaço sem que tivessem obrigação de fazer isto. Uma frase dita (“Este espaço não passa qualquer coisa: o pessoal do PSDB não pode apresentar uma peça aqui, por exemplo”) me comprovou que a democracia não é e jamais será vermelha. O pior de tudo foi buscar nossos pertences e perceber que itens faltavam – um carrinho de mala da Thays e um cabideiro de madeira do AD que estava no grupo desde 1998. Mandei um e mail para eles dizendo que os pertences haviam ficado e quando poderíamos buscá-los. Não houve resposta.
Mas também fomos uma decepção para o
CUCA. Eles esperavam um grupo de teatro com consciência política esquerdista, e não pessoas que se preocupam mais com estética artística do que com pregar opiniões sobre este ou aquele fato, leitores de Marx e Engels que procuram um bom salário pra pregar verdades partidárias. Desculpem, não somos assim.
Foi uma época muito ruim pra mim. Sem grana, perdi coisas e pessoas de valor. financeiro e sentimental em estilhaços ao final de tudo. As intrigas pessoais também nos desgastaram muito. Realizar atividades artísticas com pessoas imaturas ou até mesmo doentias foi foda. Mas não as culpo. Não culpo ninguém. Talvez inexperiência e apostas erradas. Mas não há mágoas pessoais. Há apenas o desejo de realizar Drácula no futuro, com a estrutura e o respeito que o espetáculo merece.
No mais, tenho a felicidade de ter em nosso grupo Michelle Dias e Alexandre D’Lou, duas mentes que muito admiro. Os outros saíram. Alguns dando shows desnecessários. Outros, sumindo simplesmente. Alguns nem disseram se estão conosco ou não, mantém um silêncio constrangedor. Apesar dos pesares, ao menos um “adeus” seria algo digno.
Há muitos fatos a serem registrados, mas vou fazer como Luis Bruñel: quando completar uns 80 anos, escrevo um livro de memórias e conto tudo com mais detalhes. No momento, o lado pessoal de tudo isto não importa. No fim, Drácula parou apenas porque conseguimos um espaço e estamos nos organizando para colocá-lo em funcionamento. Lá acontecerão cursos, oficinas, apresentações e exposições de arte. Nosso espaço em São Miguel. Pensando bem, Drácula poderia ter ficado para 2011: teria casa e estadia digna, sendo gentilmente convidado, como cabe a um vampiro. Mas tê-lo realizado em 2010 foi gratificante e enriquecedor. Por todos nós e por tudo isto.
Obrigado a todos por esta viagem. Qualquer dia a gente se encontra na estrada novamente.
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